Estado da Saúde ou saúde do Estado?


Pensei imenso sobre a decisão de publicar este texto, e se as palavras aparecem aqui é porque, finalmente, ganhei coragem.

Atenção que tudo o que escrever será uma opinião minha, enquanto utente e também funcionária de um centro de saúde.

Acho que a maioria do povo Português nunca está contente com aquilo que tem e pior, não lhe dá valor. Facilmente aponta o dedo aos outros, esquecendo-se de o apontar, em primeiro lugar, a ele próprio.

Há uma grande carência de Médicos de medicina familiar, e o nosso Primeiro-Ministro disse, em tempos, que todos Portugueses tinham direito a um.

Ora bem como é que ele pode prometer aquilo que não há. São, como eu costumo dizer, uma espécie em vias de extinção! Quem é que quer, no seu juízo perfeito e também de acordo com as palavras de uma utente lá do centro, ganhar menos que os outros e aturar mais.

Oiço muito, " Ahh mas o Sócrates prometeu", ao que eu respondo " Desculpe, mas alguma vez ficou sem consulta?". 

Agora sim vou-me dirigir a todos, refilem muito sobre o nosso sistema de saúde e depois se algum dia este for privatizado, venham falar comigo outra vez.

Sim, o nosso sistema tem falhas, principalmente no diz respeito aos numerus clausus na entrada do curso de Medicina. Somos testemunhas de profissionais escolhidos pelas suas notas e não pela sua vocação! Onde fazem nas entidades privadas aquilo que não fazem nas estatais, que é trabalhar com afinco.

O nosso sistema também é imperfeito devido aos utentes. Existem aqueles que tratam aquilo como um centro de dia, estão lá todas as semanas, preenchendo vagas desnecessariamente, pela simples razão que são isentos ou porque estão sozinhas e vão ali para ter um pouco de companhia. Estes últimos ainda consigo compreender.

Outros tratam aquilo como um supermercado! Vão ao médico privado ,mas depois querem os exames transcritos pela segurança social, fica mais baratinho, e sempre para ontem, porque já fizeram a marcação dos próprios! Acham que é só levantar!



E passamos às isenções! Lá por uma pessoa não pagar exames e consultas, não quer dizer que se abuse. Mas haverá necessidade de fazer análises todos os meses se uma pessoa que se sente bem? Devem querer apanhar aquilo logo no início, só pode! Começo a achar que é sonho de qualquer Português arranjar uma "doencinha" só para poder colocar os papéis para a reforma.

E nem sequer vou abordar a questão das baixas médicas, porque senão saí daqui um chorrilho de asneiras.

No outro dia coloquei uma música de Zeca Afonso " O que faz falta"! 
Na minha opinião o que faz falta é um pouco de brio profissional, vontade de trabalhar e acima de tudo deixarem-se de merdinhas!
O que faz falta é os políticos terem uma noção da realidade sobre a qual estão a opinar e a tomar decisões.

Eu, durante a minha vida profissional, meti 3 dias de baixa! Foi-me dito que a maioria das pessoas em melhor estado que eu tirava mais de um Mês.

Eu não aguento estar sem fazer nada, principalmente porque dou por mim a pensar na vida, e por isso fui trabalhar de braço ao peito.

E depois assisto a pessoas que lá vão, principalmente à segunda e sexta-feira, queixar-se que devido a uma coisa no olho ( eu juro que olhei com muita atenção) não conseguem ir trabalhar!
Enganam-se os que pensam que são os mais velhos a procurar as ditas justificações médicas. São os mais novos , descontentes com o trabalho e com a vida. 

Guess what? Estamos todos no mesmo barco! Não se encostem porque o colega do lado não faz nada. Trabalhem para se valorizarem, não pelos outros e por as chefias, porque destes não podemos esperar nada, mas por vocês! 

Dito isto tudo, sou a favor de um Sistema Nacional de Saúde gratuito. Há que perceber que a sua sustentabilidade depende dos seus cidadãos, mas devido aos abusos de uns, qualquer dia pagaremos todos.

Comentários

Lady Day disse…
Eu entendo-te perfeitamente, até porque já trabalhei em atendimento ao público e sei que é preciso ter uma paciência sacrosanta. Aliás, é daquelas coisas que nos faz perder a fé na humanidade, na civilização, caraças, na inteligência humana (também é verdade que há muito funcionário a limar as unhas enquanto trabalha, mas pronto. Se calhar, estamos feitos uns para os outros, mesmo).

Relativamente às pessoas que vão todas as semanas e estão sempre a pedir exames: mas os médicos não lhes dizem que não?
Eu também sou a favor do SNS gratuito, mas haverá outras formas: nomeadamente, as pessoas serem atendidas por médicos privados, e depois ser-lhes paga a consulta. Isso permitiria uma cobertura mais geral em determinadas especialidades inexistentes (ou quase) nos centros de saúde (dentistas, etc.), e com jeitinho ainda nivelava os preços exorbitantes que os médicos praticam no privado. Há países onde funciona assim, e tanto quanto sei, bem.

Pessoalmente creio que mesmo que as pessoas não abusassem, a gratuidade estaria ameaçada, simplesmente porque têm fechado o cerco a essa ideia do Estado do Bem-Estar social. É a moda internacional desde os anos 80.
Maria disse…
Lady,

Eu bem sei que há muitas pessoas a limar as unhas e a actualizar o seu status no facebook.
Daí eu ter escrito para as pessoas trabalharem por elas e não pelos outros! É o que eu faço.
Sim, lidar com o público é cansativo mas tento fazer a diferença. E caio sempre no erro de fazer os males dos outros os meus, o que também não é bom.

Acho que em termos de consultas de especialidade isso poderia ser resolvido se os médicos escolhessem entre privada e estado, pagando mais a quem optasse pela dedicação exclusiva.

Acima de tudo o post também foi também para ilustrar que um sistema nacional de saúde não pode ter lucro, principalmente quando temos em conta o envelhecimento da população, mas pode-se tentar reduzir o desperdício.

SE fosse a escrever tudo o que queria não cabia numa só página hehe. Há sempre algo que fica por dizer.
Gostei muito do teu comentário :).
Lady Day disse…
Tomei café a meio da tarde! Estou cá com uma pedalada! Daí o comentário enorme :)

Eu sou como tu, acho que devemos fazer as coisas bem e com brio, independentemente do trabalho que se faça (todo o trabalho honesto é digno). Não só pelos outros - eu gosto de fazer as coisas bem mesmo quando não está ninguém a olhar. E em termos sociais, acredito que, no fundo, todos somos macaquinhos de imitação - ou seja, os exemplos positivos acabam por ter sempre algum nível de contágio. E, bom, ter familiares mais novos faz-me encher o peito e sentir ainda mais a necessidade de ser um bom exemplo.
Maria disse…
Eu gosto de comentários grandes :).
O meu medo é que, nos dias de hoje, já não existem muitos exemplos a seguir.
Se eu fosse a dar a minha opinião sobre a juventude de hoje, estava a escrever até amanhã de manhã.
Maria disse…
Podes beber café, à tarde, mais vezes hehe

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