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espelho retrovisor
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O ritual de saída começa a ser igual. Colocar bata e máscara cirúrgica, logo em cima outra FFP2 para abraçar a minha mãe quando me venho embora! Já sei que ela se vai agarrar e todo o cuidado é pouco com uma doente com enfisema pulmonar! O mais engraçado é que depois sou eu que não a consegue largar. Gosto de a sentir perto, de a ouvir respirar, de lhe apertar os seus 40 quilos de ossos porque não se alimenta bem! Porque tenho sempre receio que este seja o nosso último abraço! Controlo a entrada dela em casa pelo espelho retrovisor e quando chego à curva começam-me a cair as lágrimas!
Contradições
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Porque este novo normal de normal nada tem! "When they call your name Will you walk right up With a smile on your face? Or will you cower in fear In your favorite sweater With an old love letter? I wish you would I wish you would Come pick me up Take me out Fuck me up Steal my records Screw all my friends They're all full of shit With a smile on your face And then do it again I wish you would"
“ Desrituais”
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Lá em casa aos sábados comprava-se o Expresso, ou o Espesso como lhe chamava o meu pai, porque por vezes o conteúdo , mesmo bem espremido, era inversamente proporcional ao número de folhas que o jornal tinha. Cada um atacava vorazmente a sua parte. Eu, honestamente, pegava na revista , depois a crónica do Pedro Adão e Silva, sempre na expectativa que escrevesse sobre música como no seu blog ondas ou como falava no programa maravilhoso de rádio o “Quase famosos”. Mesmo durante o tempo em que o meu Pai esteve internado no hospital eu levava o jornal e nós lá distribuímos as secções e ficávamos a ler o silêncio, com o ocasional suspiro , e impropério, do meu Pai. O último que comprei foi no dia 16 de Janeiro, lembro-me como se fosse ontem, na véspera dos 46 anos de casados dos meus Pais. Ele morreria no dia 20 do mesmo mês. Hoje, pela primeira vez dessa data, comprei o jornal. Há rituais que nunca mais serão os mesmos.
IdIossIncrasIa
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Uma coisa que acho engraçada (e que de engraçado não tem nada, é apenas uma expressão que uso desadequadamente. Como dizer " estás maluca ou quê", a uma pessoa que não está em plena posse da sua faculdade mental, sim já o fiz!) é a nossa capacidade de reconhecer na voz dos outros o vazio emocional provocado pela perda de uma pessoa muito próxima. Quase que arriscava afirmar que falamos um dialecto só nosso! Tornamo-nos cúmplices nos olhares e no silêncio, basta isso para nos compreendermos. Alguém dizia no outro dia que nem queria imaginar a dor que eu deveria sentir por ter perdido do meu Pai, e o mais engraçado é que aquilo que se sente é apenas um vazio, como que um vácuo na nossa alma. Posso afirmar que não sou a mesma e que parte de mim também se foi.
Telegrama emocional
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Só me apetece fumar , coloquei o maço de tabaco de lado há um mês ( stop ) Passaram duas semanas desde a minha cirurgia e tenho as minhas nádegas à Belenenses ( stop ) Estou farta de estar em casa e prestes a dar em maluca (stop ) A questionar todas as minhas decisões desde que nasci ( stop ) Resumindo, estou mais refilona que o habitual ( stop e nova linha )