Post de cariz pessoal...

Já mencionei aqui que a minha Mãe é Inglesa, só não contei  como foi que o meu Pai a "resgatou" do Reino Unido.
Ele foi mais um estudante que foi perseguido pela PIDE por andar a "apregoar" ideais de liberdade e que, depois de condenado, se viu obrigado a "cavar" (termo usado por ele constantemente) do seu País.Acabou na Suíça, fez de tudo um pouco para sobreviver (só não foi paneleiro e chulo de acordo com as palavras dele) e acabou o curso.
Foi admitido no Royal College of Pathologists para tirar a especialidade e eventualmente numa noite de serviço, conheceu a minha mãe, por quem se apaixonou, ela, claro está, não suportava o Português arrogante!!! Mas, e ainda bem para mim, ele lá conseguiu dar a volta a situação.
Depois do 25 de Abril ele decidiu voltar para o seu País e tentar ajudar na sua "reconstrução", mas isso já são outras histórias.

Cresci numa casa onde os ideais defendidos pelo meu Pai, eram postos em prática, ele fez questão de nos contar tudo, partilhar connosco as suas experiências e principalmente sempre nos encorajou a questionar. Lembro-me uma vez à hora de jantar ,depois de um comentário meu sobre o facto de ele ser boa boca, se virar para mim e dizer "Filha passei muita fome. Dias houve em que só tinha dinheiro para comprar um cacete de pão, partia-o aos bocados e ia comendo durante o dia". Na altura, assim como agora, as lágrimas teimaram em cair sem eu dar conta.

Serve este Post para dizer que fico arrepiada quando leio que os Jovens não têm a mínima noção sobre a História de Portugal e PRINCIPALMENTE, por não quererem saber! Às tantas se a "história" dos Moranguinhos e Florimelgas, ou lá como aquilo se chama, se passasse na altura do Estado Novo, talvez eles ainda sentissem uma certa curiosidade em aprender algo, a questionar o porquê de hoje ser feriado.

Custa-me que o esforço e a privação da liberdade de tantos sejam tão facilmente ignorados pelas gerações mais novas!!!!!


Adriano Correia de Oliveira - Trova do vento que passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
o vento nada me diz.


Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre

Fica aqui a minha homenagem ao meu Pai e a todos os que lutaram, que se recusaram a baixar os braços e que, acima de tudo, acreditaram, se não fosse por eles eu não teria a liberdade para escrever aquilo me vai na alma!!!!